domingo, 29 de setembro de 2013

Nossa. Minha.

Me encontrava num final de tarde
Ouvia o que outrora fora música nossa
Hoje puramente minha
E reparei que o sentido de nossa mudava com os ipês

Os brilhantes entenderão

E quanto menos palavras uso, mais você as quer. Sejamos francos: há algum motivo para essa conversa mansamente “cotidiana”? A essa altura da vida, da semana, do dia não há espaço para pequenos joguinhos. Hoje poupo qualquer esforço, poupo-me de ti. Psicologia reversa, não se esforce tanto. Hoje já tive tremores, perdas arredondas, interjeições desculpáveis. Leia adequadamente minhas atitudes de ontem, confio plenamente em seus instintos básicos para te ajudarem.

sábado, 28 de setembro de 2013

Dezembro

A situação, para ela, acompanhava as tendências do mês. Após um calor exacerbado, uma chuva repentina, que não serve para refrescar, apenas abafa e desmancha possíveis planos. Seus olhos verdes mostravam as pupilas interrompidas pelo constrangimento e a ignorância de como saber agir. Mexia e remexia na trança que se desmanchava em sua homenagem.
O sol aumentava a exaustão, mas, pelo lado Poliana da vida, disfarçava a vermelhidão. Nos abraços sentia a câmera focando seus olhos abertos, impossível fechá-los. Era a vilã, roubava o romantismo, roubava a esperança e o bom senso. Era a vilã com saudades. Saudades de um passado distante, de um passado presente, de uma ausência daquela situação.

Dezembro caia sobre os seus pés, com tal força que lhe roubaria o sono a noite. Dezembro desembrulhava possíveis amores, deixava-os nus, arreganhados no chão. Dezembro abortava.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dois minutos talvez

Ela piscava os olhos repetidas vezes. Já não um ato involuntário, mas sim necessário, calculado, salvador. Buscava apoiar-se no cercado, na parede, nos próprios pés. Era necessário certo esforço para conseguir manter-se concentrada no que estava sendo dito. Seria interessante. Não apenas interessante, seria muito bom. A menina permitia-se algum  florir, já era primavera. Pensava como seria a quebra daquela barreira e esquecia do presente. Foco! Ordenava a si mesma, para depois esquecer as próprias ordens.

sábado, 14 de setembro de 2013

Talvez de noite

     Ela já sabia que era incerto, mas ousou criar alguma expectativa. Ria ao lembrar das flores que haviam descoberto o dia e ao lembrar das que sentiam o gosto da terra. Nestas se reconhecia. Pensava em ser aquelas amarelas que vira mais cedo. Recordava já ter sido reflexo das roxas que se atiravam dos galhos, em um salto desesperado para o brusco.
    Sorria tão largamente que se deslocava do padrão. Sorria ao perceber o efeito que surtia naquele recém nascido menino. Ria-se tão abertamente que o desconcertava. Seu comprometimento em ser um homem de palavra a desconcertava. Queria um certo descompromisso e o seu auto intitular "homem" já bastava para mais um riso. Contudo, admirava a sua preocupação.
    Movia o corpo esguio segundo o ritmo de sua própria frequência. Já não estava onde estava. Corria os olhos fechados, não para o encontrar, mas para se perder em si. 


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Uma falta de tradicionalismo no calendário

Tem dia que tudo o que precisamos é a oferta de um suco de laranja no meio do tumulto. Mas esses dias, como pode-se esperar, são malandros. O passado decide dar um bocejo, e no meio dessa careta singular surge uma conversa estúpida, cuja única reação adequada é, e desde já peço desculpa pela interjeição: CARALHO.