sábado, 24 de outubro de 2015

Porcelana quebrada

O prego começava a roçar a pele, testando a sua resistência
Aumentava, bem devagarinho, a pressão
Rompia aquela branca barreira consagrada, pura, quente
Adentrava cada vez mais
Sentindo o prazer da carne sendo alcançada e derrotada,
Espalhava por todo aquele vermelho forte e quente
O seu mal de ser gente
O seu mal de amar e ser amado
E corroía aquela pele que ali fixava,
Branca e dilacerada,
Na cabeceira da cama ali permaneceria,
Aquele pulso piegas que batia
Aquele pulso amado que sangrava

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Maravilhosa aventura

Me atrevi a enfiar os pés ali, naquela novíssima livraria com cheiro de mochila nova. Engolida pela grandeza de suas luzes, o altar de suas caixas floridas. Ah! Era dia de ser A-V-E-N-T-U-R-E-I-R-A. corri os olhos pelas estantes, me atrevi a pensar em Portugal. Então, no meu ato mais temerário, abordei uma vendedora e perguntei-lhe por Lisboa. Com toda a sua sagacidade, a moçoila me garantiu que essa terra tão bela era brasileira. E, em seu belo ato de humildade, confessou não dominar os mapas e assim não pode confirmar se em Lisboa estavam os calorentos cariocas ou os fugazes paulistas.

Quando especifiquei minha busca, surgiu ali, entre Vinícius e Coelho, me transportando aos adoráveis Oompa-Loompas, a gerente. Trajada belamente com sua roupa de escoteiro, soou o apito e disse aos trinta e dois vendedores que já nos cercavam: “A caça ao tesouro começou!”. Saíram todos agitados, balançando suas bandeirolas, correndo os olhos e os dedos pelas estantes, indo de A à Z em apenas dois volumes. Passaram-se horas, até me atrevo a dizer dias, até o primeiro Pessoa surgir, entre rojões e festa. 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Para além, para aqui

A água não corria como se crê
Era de um azul tão intenso que estes meus olhos nunca viram.
A areia da sua margem transbordava
Era mais viva que eu
Me envolvia numa paz quente
Era o retorno a alguma morada
Aruanda

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Confessionário

Talvez a ti passe,
pelos seus doces olhos,
despercebido
A minha necessidade de todo o dia
Me por a inventar.

Crio mundos, salas, quarto
construo carros e faço nascer árvores
para nos cercar.

Talvez ainda não tenhas percebido,
Que nos dias em que não me trazes o bendito pãozinho
Pereço, morro devagarinho.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Que me encha

Não me basta.
Sempre me assombro quando chego nessa afirmação tão densa.
Terrorismo perfeito
Que me persegue há tempos.

Sempre tremo quando posiciono “só”
Ante(s de) “você”.

Nessas horas escuras
Minhas pernas bambeiam mais do que nunca
Pois nunca há resposta que me encha a boca
Me jogam, assim, no chão
Me taxam de louca. 

terça-feira, 24 de março de 2015

Apenas nosso, apenas eu

Tão frio e tão doce era o seu olhar
A me perfurar.
Acorrentada, minha rubra boca te entregava
Os suspiros, os versos que te fiz
Num só ato, num só sacrifício
Os meus braços abraçavam o mar que nos continha
Nos separava e aproximava,
Num ritmo atormentador. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Nessa simplicidade

Amo-te
Amo-te sem rubores.
Amo-te no meu simples,
No meu todo.

Amo-te de forma simples,
Quase bruta.
Amo-te sem filtrar,
Sem rodeios,
Atingindo-te em cheio.
Minha caçula,
Te amo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Tudo aquilo que faltou naquelas noites foi achado em uma. Sem grandes confusões, com apenas uma vítima.

Subia leve.
Palpitava só de brincadeira.
Como não sorrir ao lembrar de Chico, de Steven, do menino?
Sequestrava aquele suspiro procurado há tempos.
Espalhava pelos Móveis, pelo apartamento
Toda a sujeira acumulada, deixando vestígios na almofada e no copo americano de requeijão utilizado para beber água. 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Sem mais

Te desejei aqui, uma última vez
Você me olhava daquele jeito, aquele olhar que só você sabe
Que me confidenciou quando te ensinei a minha astronomia,
Sem te confessar que era apenas minha e que eu era sua