sábado, 18 de outubro de 2014

Mãos

Vestindo o nu que me destes,
Única forma de me amar,
Percorri bueiros, corri os olhos
Para não te fitar.

Soltando os cabelos que prendestes,
Única forma de me sentir,
Deixei-te pasmo, duro
A me fitar. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Noite

Ah, Barthes! Como achei que havia entendido a sua noite.
Ela estava ali, com toda a sua inércia, com todo seu impasse
Com toda a minha passividade.
Achei que vivia a noite em toda a sua completude,
Até me lembrarem que ela não podia ser parte de fragmentos de um discurso amoroso
Pois era puro fragmento
Sem ser mais nada. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Olhos a olhar

Olhou-o atentamente,
Com os olhos a secar cada detalhe
Olhando os fios discretos que brotavam na orelha,
Os belos pelos que escapavam pela narina direita.
Deliciou-se ao olhar a boca,
Devorando-a em pedaços generosos.
E quanto mais olhava, mais se prendia,
Maior os olhos ficavam.
Olhou atentamente os poros entupidos que recobriam delicadamente a pele do nariz
Olhou atentamente
Os olhos crescendo
Olhou com olhos grandes
Até que lhe saltou do rosto o olho esquerdo,
Deixando o vazio
Marca de seu amor. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Condenada

Há tempos espero tua carta.
Meus olhos já tombam sob estas pálpebras pesadas, roxas.
Meus lábios se unem, aflitos, vivendo um Julho eterno.
O negro dos meus cachos toma, por todos os lados, meu rosto de encarcerada.
Permaneço deitada em nosso tálamo de flores e apenas resto.