terça-feira, 19 de agosto de 2014

Insônia

Não era solidão
Era ausência de cegueira
Sem conseguir se prender a qualquer palavra
Dita por qualquer boca que se ofereça

Esvaziava mais uma noite
Sem encontrar na cama um sonho reconfortante
Espantava a noite e espantava o dia
Os olhos roxos fechavam com o peso
Das pálpebras assassinadas pelo tédio


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Versos doentios

Fez-me falta, dentre aqueles ombros e aquelas notas,
O seu olhar a me cercar, a dissecar o meu corpo

Lembrei da sua boca na dela e imaginei as das outras
Rezei, céus, pelo seu abraço, Amor
Queria te chamar mais uma vez de Meu. 

Recortes

Meu pulso trazia o cheiro do seu beijo, ainda morno
Arrepiando a minha pele em seu oposto
O seu olhar maroto a me submeter

Sangrava calada, moída
A transbordar uns jorros fétidos

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Palavra silenciada

Nas palavras procuro qualquer desabafo
Mas as palavras não sabem ser confessionários
São metades abortadas
São caminho incompleto
E não dizem nada

Rito

Por vezes uma tristeza acariciava seu rosto, tocava sua pele, fechava seus olhos. Nessas horas puxava o ar, era toda ele e o liberava com o pesar de perder um filho, com o coração parado, a testa franzida.
Repetia o processo, uma espécie de rito ou refúgio doentio. Sofria com intensidade, poupava as lágrimas, mas expandia toda a tristeza para todo o corpo.