quarta-feira, 2 de julho de 2014
Dormência
Por entre os dedos finos escapava aquele pedaço
de pano. Um tecido barato, que nos tempos de glória fora azul. As mãos não
tentavam recuperá-lo, não se preocupavam em segurá-lo. Ele sentia as pontas dos
dedos. O vento o dava forma. Seguia ao lado das pernas esbranquiçadas pelo
inverno. Os dedos se abandonavam, paralisados. As bordas do pano se abriam,
revelavam os fiapos. A luz do sol o flagrou naquela queda, se demorou nas
remendas mal feitas. A linha vermelha ligava frouxamente as metades, os terços,
os quartos. O chão empoeirado foi o berço. Ali se estendeu engruvinhado aquele
pedaço de pano, sem vontade de se levantar.
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