domingo, 9 de março de 2014

Anestesia

O que sentia na hora da revelação não passava nada. A paralisia não permitia o pensar, apenas o respirar. O chão não sumiu como esperava que o fizesse, mas alguma coisa morria. Morria como havia esperado. E o velório não tardava a começar. Mas ninguém reconheceu a viúva, não deram seus sentimentos. Celebravam uma vida alheia.


Não, ninguém vertera uma lágrima, nem ela mesma. Não havia. Fora uma perda que apenas ela reconhecia. Conhecia. A hora da revelação se alastrou até o ponteiro girar e girar e girar. Não sobrava nada, apenas um passado nostálgico que não era o suficiente para morrer ou ser morto. Não encarava o fim, mas uma suspensão. Um desvio na rotina e um sentimento perdido. 

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