sexta-feira, 20 de abril de 2012

Gato Preto

              Hoje eu vi um gato preto. Quando ele me viu paralisou, encarou-me nos olhos e brincou de estátua. Quando dei um sutil passo ele correu. Correu.
                Para ele correr era o mais prático e seguro a se fazer. Correu com facilidade, com a agilidade de um gato preto.
                Vi seu corpo preto esticar e encolher no verde da grama alta. Rapidamente ganhou velocidade. Invejei profundamente o gato.
                Invejei o gato profunda e amargamente. Tudo o que eu queria era ter essa liberdade de correr, simplesmente correr  do que me assusta, do que me magoa. De quem eu magoo.
                Sim, de quem eu magoo. Parece que nos últimos tempos só eu possuo a capacidade de magoar, ferir e/ou decepcionar as pessoas. Só eu. Estranho não? Devo estar cercada de pessoas perfeitas, afinal elas nunca me machucam.
                Oh, leitor, se eu escrevesse feito os latinos estaria a exclamar: “Oh! Coitada que sou”. Se escrevesse polidamente talvez dissesse: “Quantas injúrias”. Porém quero escrever simples e grosso, assim apenas escrevo: “Mas que merda!”.
                Desculpe-me a falta de polidez, o abandono de clássicas lamentações e o uso de um português claro demais. Porém só assim consigo descrever a merda que é ter que ser estátua e não correr, ter que ser educada e sorrir, quando todos sentam no próprio rabo e me apontam como a responsável por Jesus ter parado na porra da cruz.